sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ROTINA - Joanna de Ângelis

[...] Rotina é como ferrugem na engrenagem de preciosa maquinaria, que a corrói e arrebenta. 
     Disfarçada como segurança, emperra o carro do progresso social e automatiza a mente, que cede o campo do raciocínio ao mesmismo cansador, deprimente.      O homem repete a ação de ontem com igual intensidade hoje; trabalha no mesmo labor e recompõe idênticos passos; mantém as mesmas desinteressantes conversações: retorna ao lar ou busca os repetidos espairecimentos: bar, clube, televisão, jornal, sexo, com frenético receio da solidão, até alcançar a aposentadoria. 
     Nesse ínterim, realiza férias programadas, visita lugares que o desagradam, porém reúne-se a outros grupos igualmente tediosos e, quando chega ao denominado período do gozo-repouso, deixa-se arrastar pela inutilidade agradável, vitimado por problemas cardíacos, que resultam das pressões largamente sustentadas ou por neuroses que a monotonia engendra.
     O homem é um mamífero biossocial, construído para experiências e iniciativas constantes, renovadoras. A sua vida é resultado de bilhões de anos de transformações celulares, sob o comando do Espírito, que elaborou equipamentos orgânicos e psíquicos para as respostas evolutivas que a futura perfeição lhe exige. 
     O trabalho constitui-lhe estímulo aos valores que lhe dormem latentes, aguardando despertamento, ampliação, desdobramento. Deixando que esse potencial permaneça inativo por indolência ou rotina, a frustração emocional entorpece os sentimentos do ser ou leva-o à violência, ao crime, como processo de libertação da masmorra que ele mesmo construiu, nela encarcerando-se. Subitamente, qual correnteza contida que arrebenta a barragem, rompe os limites do habitual e dá vazão aos conflitos, aos instintos agressivos, tombando em processos alucinados de desequilíbrios e choque. 
     Nesse sentido, os suportes morais e espirituais contribuem para a mudança da rotina, abrindo espaços mentais e emocionais para o idealismo do amor ao próximo, da solidariedade, dos serviços de enobrecimento humano. 
     O homem se deve renovar incessantemente, alterando para melhor os hábitos e atividades, motivando-se para o aprimoramento íntimo, com conseqüente movimentação das forças que fomentam o progresso pessoal e comunitário, a benefício da sociedade em geral. Face a esse esforço e empenho, o homem interior sobrepõe-se ao exterior, social, trabalhado pelos atavismos das repressões e castrações, propondo conceitos mais dignos de convivência humana, em consonância com as ambições espirituais que lhe passam a comandar as disposições íntimas. 
     O excesso de tecnologia, que aparentemente resolveria os problemas humanos, engendrou novos dramas e conflitos comportamentais, na rotina degradante, que necessitam ser reexaminados para posterior correção.[...]





SOLIDARIEDADE: COMUNHÃO UNIVERSAL - Léon Denis


sexta-feira, 25 de março de 2016

Haroldo Dutra Dias | Especial de Páscoa


REGRESSÃO DE MEMÓRIA

    



    O esquecimento do passado constitui verdadeira misericórdia de Deus para com as Suas criaturas, porquanto faculta o recomeço em novo corpo sem a carga das lembranças tormentosas resultantes dos feitos negativos perpetrados em existências passadas.[...]
    A recordação das ocorrências danosas acarretaria, sem dúvida, uma carga de sofrimento derivado do remorso, que dificultaria o prosseguimento dos compromissos elevados. Em consequência, poderia tornar-se um motivo de desânimo gerador de estímulos prejudiciais para o abandono dos deveres ou o medo de enfrentamento dos novos desafios.[...]
    Por outro lado, a revivescência dos momentos gloriosos, das afeições especiais se, de uma forma, pudesse transformar-se em emulação(estímulo) para a continuidade do esforço, faria correr o risco de eleições especiais em detrimento de novas vinculações afetuosas, o que diminuiria o círculo de crescimento fraternal na busca da imensa família universal.[...]
    O organismo humano é portador de um limite de energia própria para suportar emoções e sensações até certo ponto que, superado, se transforma em desajuste dos seus sutis equipamentos psíquicos, produzindo lesões irreversíveis. Por essa razão, muitos seres Inter existentes, que convivem simultaneamente nas esferas da vida – a material e a espiritual – quando não são moralizados ou não conseguem harmonizar o comportamento com a estrutura psíquica, derrapam em alucinações, em distonias nervosas e mentais de difícil recuperação durante a existência.[...]
    Por outro lado, firmados nas infinitas possibilidades dos arquivos do inconsciente atual como do profundo, nobres psicanalistas encontraram nas ocorrências da vida perinatal a causalidade de muitos traumas, fobias, complexos de inferioridade e superioridade, narcisismo, perturbando a conduta de seus pacientes. Através dos recursos hábeis para esse fim, vêm realizando incursões exitosas, graças às quais lideram muitos sofredores dos seus tormentosos estados d’alma, limpando-os das marcas neles gravadas.[...]
    É claro que o assunto apenas está começando nessa área e muito se há de estuda-lo, a fim de bem penetrá-lo, evitando-se que novas recordações aumentem o somatório do que já existe no consciente, correndo-se o risco de produzir-se inarmonia homeostática.[...]
   A conscientização da responsabilidade do ser humano perante a vida é-lhe a valiosíssima terapia para a conquista da saúde física e mental, sobretudo para a realização moral, cujos pródromos de atividade nem sempre feliz se encontram nos painéis da mente profunda, nos alicerces do inconsciente espiritual.[...]
     Qualquer incursão, no entanto, nesses domínios, sem orientação competente e especializada, destituída de objetivos nobres, animada por curiosidade ou frivolidade descabida, sempre resulta em desastre, isto é, em imprevisível sucesso muitas vezes de sabor amargo.[...]



FONTE:

ÂNGELIS, Joanna de/ FRANCO, Divaldo P. – Dias Gloriosos – Cap.18