quarta-feira, 28 de maio de 2014
A contínua luta entre o ego e o Self - Joanna de Ângelis / Divaldo Pereira Franco
Dominador,
o ego mascara-se no personalismo, em que se refugiam as heranças grosseiras,
que levam o indivíduo à prepotência, à dominação dos outros, em face da
dificuldade de fazê-lo em relação a si mesmo, isto é, libertar-se da situação
deplorável em que se encontra.[...]
Sendo o Self o arquétipo básico
da vida consciente, o princípio inteligente, ele é o somatório de todas as
experiências evolutivas, sempre avançando na direção do estado numinoso.
Nessa dissociação dos polos, muitas vezes
pode parecer que o indivíduo, a grande esforço, conseguiu a interação, até o
momento em que se surpreende com o terror da cisão inesperada que o leva a um
transtorno profundo, especialmente se viveu em razão de um ideal que asfixiou o
conflito, mas não o solucionou, despertando com sensação de inutilidade, de
vazio existencial.
Sucede que o ego exige destaque,
compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto,
originando-se nele um tipo de sede
de água do mar,
que não é saciada por motivo óbvio.[...]
Conscientizar a sombra, diluindo-a, mediante a sua assimilação, ao
invés de ignorá-la, constitui passo avançado para a perfeita identificação
entre ego e Self.[...]
Essas expressões (ego e Self) apresentam-se na
conduta humana quando em público, aparenta-se uma forma de ser e, quando, no
lar, na família ou a sós, outra bem diferente. O que representa gentileza
transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.
Aceitar-se com naturalidade esses opostos
é recurso salutar, terapêutico, para melhor contribuir-se em favor da harmonia
entre os outros litigantes, que são o ego e Self.
No comportamento social não é necessário
mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva expor as
aflições internas, os tormentos do polo negativo.
Assumir-se
a realidade do que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos
valores edificantes e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer,
transformando-os em emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das
sensações dominantes, constitui maneira eficiente para diminuir a luta
existente entre os dois arquétipos básicos da vida humana.quarta-feira, 21 de maio de 2014
terça-feira, 20 de maio de 2014
SIR WILLIAN CROOKES E AS MATERIALIZAÇÕES DE ESPÍRITOS
William Crookes nasceu em Londres, Inglaterra, no dia 17 de junho de 1832. Foi o maior químico da Inglaterra, segundo afirmativa de "Sir" Arthur Conan Doyle, o que ficou constatado pela trajetória gloriosa que esse ilustre homem de ciência desenvolveu no campo científico. Mencionado como sendo um dos mais persistentes e corajosos pesquisadores dos fenômenos supranormais, desenvolveu importante trabalho na área da fenomenologia espírita.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
REVISTA ESPÍRITA - FEVEREIRO DE 1862
Resposta
ao requerimento dos Espíritas de Lyon por ocasião do ano novo
Meus
caros irmãos e amigos de Lyon,
O
requerimento coletivo que consentis em me enviar, por ocasião do ano novo,
causou-me bem viva satisfação, provando-me que conservais uma boa lembrança de
mim; mas o que me deu mais prazer nesse ato espontâneo de vossa parte, foi
encontrar, entre as numerosas assinaturas que ali figuram, representantes de
quase todos os grupos, porque é um sinal da harmonia que reina entre eles.
Estou feliz em ver que compreendestes perfeitamente o objetivo desta
organização da qual já podeis apreciar os resultados, porque deve estar
evidente agora, para vós, que uma Sociedade única teria sido quase impossível.
Eu vos
agradeço, meus bons amigos, pelos votos que formulais por mim; eles me são
tanto mais agradáveis quanto sei que partem do coração, e são aqueles que Deus
escuta. Ficai, pois, satisfeitos, porque eles os atende cada dia, dando-me a
alegria inaudita no estabelecimento de uma nova doutrina, de ver aquela a que
me devotei crescer e prosperar, enquanto vivo, com uma maravilhosa rapidez.
Considero como um grande favor do céu ser testemunha do bem que ela já fez.
Esta certeza, da qual recebo diariamente os mais tocantes testemunhos, me paga
com usura todas as minhas dificuldades e todas as minhas fadigas; não peço a
Deus senão uma graça, que é a de me dar a força física necessária para ir até o
fim de minha tarefa, que está longe de ser terminada; mas, o que quer que
ocorra, terei sempre o consolo de estar seguro de que a semente das idéias
novas, agora difundida por toda a parte, é imperecível; mais feliz do que
muitos outros, que não trabalharam senão para o futuro, foi-me dado ver-lhe os
primeiros frutos.
Se uma
coisa lamento, é que a exigüidade de meus recursos pessoais não me permita pôr
em execução os planos que concebi para o seu adiantamento ainda mais rápido;
mas se Deus, em sua sabedoria, acreditou dever isso decidir de outro modo,
legarei esses planos aos meus sucessores que, sem dúvida, serão mais felizes.
Apesar da penúria dos recursos materiais, o movimento que se opera na opinião
superou toda esperança; crede bem, meus irmãos, que nisso vosso exemplo não
terá sido sem influência. Recebei, pois, nossas felicitações pela maneira pela
qual sabeis compreender e praticar a Doutrina. Sei o quanto são grandes as
provas que muitos, dentre vós, tereis que suportar; só Deus lhes conhece o fim
neste mundo; mas também que força a fé no futuro dá contra a adversidade! Oh!
Lamentai aqueles que crêem no nada depois da morte, porque para eles o mal
presente não tem compensação. O incrédulo infeliz é como o doente que não
espera nenhuma cura; o Espírita, ao contrário, é como aquele que está doente
hoje e que sabe que amanhã estará bem.
Pedis
a mim para vos continuar com meus conselhos; eu os dou de boa vontade
àqueles que crêem deles ter necessidade e que os reclamam; mas não os
dou senão àqueles; aos que pensam deles saber bastante e poder abster-se das
lições da experiência, nada tenho a dizer, senão que desejo que não tenham a se
lamentar um dia por terem muito presumido de suas próprias forças. Essa
pretensão, aliás, acusa um sentimento de orgulho, contrário ao verdadeiro
espírito do Espiritismo; ora, pecando pela base, provam só por isso que se
afastam da verdade. Não sois desse número, meus amigos, e é por isso que
aproveito a circunstância para vos dirigir algumas palavras que vos provarão
que, de longe como de perto, estou inteiramente ao vosso dispor.
No ponto
em que hoje as coisas estão, e ao ver a marcha do Espiritismo através dos
obstáculos semeados sobre o seu caminho, pode-se dizer que as principais
dificuldades estão vencidas; ele tomou seu lugar e está assentado sobre bases
que desafiam,doravante, os esforços de seus adversários. Pergunta-se como uma
doutrina que nos torna felizes e melhores, pode ter inimigos; isso é muito
natural: o estabelecimento das melhores coisas, no começo, fere sempre
interesses; não foi assim com todas as invenções e descobertas que fizeram
revolução na indústria? As que hoje são olhadas como benefícios, sem quais não
se poderia mais se passar, não tiveram inimigos obstinados? Toda lei que
reprime os abusos, não tem contra si aqueles que vivem dos abusos? Como
quereríeis que uma doutrina, que conduz ao reino da caridade efetiva, não seja
combatida por todos aqueles que vivem do egoísmo; e sabeis o quanto são estes
numerosos sobre a Terra! No princípio, esperaram matá-la pela zombaria; hoje
vêem que essa arma é impotente, e que sob o fogo constante dos sarcasmos
continuou seu caminho sem tropeçar; não credes que eles irão se confessar
vencidos; não, o interesse material é mais tenaz; reconhecendo que é uma força
com a qual, doravante, é preciso contar, vão lhe travar assaltos mais sérios,
mas que não servirão senão para melhor provar sua fraqueza. Uns atacarão
abertamente, em palavras e em ações, e a perseguirão até na pessoa de seus
adeptos, que tentarão desencorajar à força de tormentos, ao passo que outros,
ocultamente e por caminhos deturpados, procurarão miná-la surdamente. Tende,
pois, por advertidos de que a luta não terminou. Estou prevenido de que vão
tentar um supremo esforço; mas não tenhais medo; a garantia do sucesso está
nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros Espíritas: Fora da caridade
não há salvação. Arvorai-a claramente, porque ela é a cabeça de Medusa para
os egoístas.
A
tática já usada pelos inimigos dos Espíritas, mas que vão empregar com um novo
ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando,
entre eles, a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis prender na armadilha, e
tende por certo que quem procura, por um meio qualquer que seja, romper a boa
harmonia, não pode ter uma boa intenção. É por isso que vos convido a
colocardes a maior circunspecção na formação de vossos grupos, não somente para
vossa tranqüilidade, mas no próprio interesse de vossos trabalhos.
A
natureza dos trabalhos espíritas exige a calma e o recolhimento; ora, não há recolhimento
possível se se distrai por discussões e a expressão de sentimentos malévolos.
Não
haverá sentimentos malévolos, se houver fraternidade; mas não pode aí haver fraternidade
com egoístas, ambiciosos e orgulhosos. Com orgulhosos que se melindram e se ofendem
com tudo, ambiciosos que estarão frustrados se não tiverem a supremacia, egoístas
que não pensam senão neles, a discórdia não pode tardar a se introduzir e, daí,
a dissolução. É o que querem nossos inimigos, e é o que procurarão fazer. Se um
grupo quer estar em condições de ordem, de tranqüilidade e de estabilidade, é
preciso que nele reine um sentimento fraternal. Todo grupo ou sociedade que se
forma sem ter a caridade efetiva por base, não tem vitalidade; ao passo
que aqueles que serão fundados segundo o verdadeiro espírito da Doutrina, se
olharão como os membros de uma mesma família, que, não podendo todos habitar
sob o mesmo teto, moram em lugares diferentes. A rivalidade entre eles seria um
contra-senso; ela não poderia existir ali onde reina a verdadeira caridade,
porque a caridade não pode se entender de duas maneiras. Reconhecereis, pois, o
verdadeiro Espírita pela prática da caridade em pensamentos, em palavras e em
ações, e dizei-vos que, quem nutre em sua alma sentimentos de animosidade, de
rancor, de ódio, de inveja ou de ciúme mente a si mesmo se pretende compreender
e praticar o Espiritismo.
O
egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e a
sociedade em geral. Lede
a história, e vereis que os povos sucumbem sob o amplexo desses dois mortais
inimigos da felicidade dos homens. Quando se apoiarem sobre as bases da
caridade, serão indissolúveis, porque estarão em paz entre eles e com eles
próprios, cada um respeitando os direitos e os bens de seu vizinho. É a era
nova predita, da qual o Espiritismo é o precursor, e pela qual todo Espírita
deve trabalhar, cada um em sua esfera de atividade. É uma tarefa que lhes
incumbe, e da qual serão recompensados segundo a maneira que a terão cumprido,
porque Deus saberá distinguir aqueles que não terão procurado no Espiritismo
senão a sua satisfação pessoal, daqueles que terão, ao mesmo tempo, trabalhado
pela felicidade de seus irmãos.
Devo
ainda vos assinalar uma outra tática de nossos adversários, que é a de procurar
comprometer os Espíritas, impelindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da
Doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada,
e que poderiam, a justo título, despertar suscetibilidades sombrias. Não vos
deixeis, não mais, vos prender nesta armadilha; afastai com cuidado, em vossas
reuniões, tudo o que tem relação com a política e com questões irritantes; as
discussões, sob esse assunto, não levariam a nada senão a vos suscitar
embaraços, ao passo que ninguém pode achar de censurar a moral quando ela é boa.
Procurai, no Espiritismo, o que pode vos melhorar, está aí o essencial; quando
os homens forem melhores, as reformas sociais, verdadeiramente úteis, lhe serão
a conseqüência muito natural; trabalhando para o progresso moral, possuireis os
verdadeiros e os mais sólidos fundamentos de todos os melhoramentos, e deixais
a Deus o cuidado de fazer as coisas chegarem a seu tempo. Oponde, pois, no
próprio interesse do Espiritismo que é ainda jovem, mas que amadurece depressa,
uma inabalável firmeza àqueles que procurarem vos arrastar num caminho
perigoso. (...)
Eis,
meus amigos, os conselhos que vos dou e aos quais junto meus votos para o ano
que começa. Não sei quais provas Deus nos destina para este ano, mas sei que,
quaisquer que sejam, vós a suportareis com firmeza e resignação, porque sabeis
que, para vós como para o soldado, a recompensa é proporcional à coragem.
Quanto
ao Espiritismo, pelo qual vos interessais mais do que por vós mesmos, e do
qual, pela minha posição, posso julgar, melhor do que ninguém, os progressos,
estou feliz em vos dizer que o ano se abre sob os auspícios mais favoráveis, e
que verá, sem nenhuma dúvida, o número dos adeptos crescer numa proporção
impossível de se prever; ainda alguns anos como os que vêm de se escoar, e o
Espiritismo terá por ele os três quartos da população. Deixai-me vos citar um
fato entre mil.
Num
departamento vizinho de Paris, há uma pequena cidade onde o Espiritismo
penetrou há seis meses apenas. Em algumas semanas, tomou um desenvolvimento
considerável; uma oposição formidável foi logo organizada contra os seus
partidários, ameaçando mesmo seus
interesses privados; tudo enfrentaram com uma coragem, um desinteresse dignos
dos maiores elogios; entregaram-nos à Providência, e a Providência não lhes
faltou. Essa cidade conta com uma população operária numerosa, entre a qual as
idéias espíritas, graças à oposição que se lhe fez, fazem luz rapidamente; ora,
um fato digno de nota, é que as mulheres, as jovens esperaram seus presentes
para se proporcionarem as obras necessárias à sua instrução, e foi por centenas
que uma livraria foi encarregada de expedilas só nessa cidade. Não é prodigioso
ver simples operários reservarem suas economias para comprar livros de moral e
de filosofia, antes que romances e bagatelas? Homens preferirem essa leitura às
alegrias barulhentas e embrutecidas do cabaré? Ah! é que esses homens e essas
mulheres, que sofrem como vós, compreendem agora que não é neste mundo que a
sua sorte se cumpre; a cortina se levanta e eles entrevêem os esplêndidos horizontes
do futuro. Essa pequena cidade é Chauny, no departamento do Aisne. Novas crianças
na grande família, vos saúdam, irmãos de Lyon, como mais velhos, e formam doravante
um dos anéis da corrente espiritual que já une Paris, Lyon, Metz, Sens,
Bordeaux outras, e que logo ligará todas as cidades do mundo num sentimento de
mútua confraternização; porque por toda a parte o Espiritismo lançou sementes
fecundas, e seus filhos já se estendem as mãos acima das barreiras dos
preconceitos de seitas, de castas e de nacionalidades.
Vosso
muito devotado irmão e amigo,
ALLAN KARDEC.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
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